Um convite a escuta.
Vivemos um tempo em que tudo pede pressa. O trabalho, os relacionamentos, até mesmo o cuidado com a saúde mental parecem atravessados pela lógica da produtividade. “Resolva em três passos”, “descubra sua melhor versão”, “supere-se”. O mal-estar, no entanto, não se deixa reduzir a fórmulas prontas. Ele insiste. Ele retorna. Ele fala.
A clínica nos ensina que não há atalhos para lidar com o sofrimento. Freud já apontava, no início do século passado, que o mal-estar é constitutivo da vida em sociedade. Byung-Chul Han, um século depois, nos lembra que a exaustão contemporânea não se cura apenas com descanso: ela nasce de uma cobrança constante por desempenho, que nos esvazia e nos adoece.
E entre um e outro, a psicanálise nos convida a algo radical: escutar. Escutar o que não se encaixa, o que não faz sentido de imediato, o que não cabe nos diagnósticos ou manuais de autoajuda. Escutar o singular de cada um.
É desse lugar que nasce esta coluna. Outras Palavras é um espaço para ensaiar o pensamento, abrir perguntas, sustentar dúvidas. Não pretendemos oferecer respostas rápidas. Não acreditamos em fórmulas de felicidade. Acreditamos, sim, na força de uma palavra que encontra ressonância, no cuidado que se dá pelo gesto de escutar e escrever.
Cada texto publicado aqui parte de uma questão de nosso tempo — o cansaço, a solidão, o excesso de imagens, o medo do futuro — e procura elaborá-la a partir do encontro entre teoria e experiência clínica. Freud, Lacan, Foucault, Dejours, Han: nomes que não aparecem para impor autoridade, mas para compor uma conversa que não se fecha.
Escrevemos para quem sofre, para quem pensa, para quem escuta. Para quem ainda acredita que é possível encontrar, em meio ao ruído, uma palavra que faça sentido.
Seja bem-vindo ao espaço que se abre aqui. Que cada leitura possa ser menos um consumo rápido e mais um convite: parar, sentir, pensar.
Porque às vezes, o que cura não é a resposta. É a escuta.